29 maio 2015

Faz tempo que não é mais só ficção.

(Hollywood que se vire atrás de novos enredos e que preparemos nós os estômagos para tolerá-los)

Matéria (em página do Alternet) abre janela sobre uma das profícuas possibilidades de negócios em futuro não muito distante. Na verdade a prática já as efetiva e alguma lei mesmo já aponta para sua próxima consolidação.

Eis aonde, é certo, se quer chegar: o sujeito deve algum dinheiro, é sentenciado a pagar, logicamente, incluso o custo do julgamento, mas é de fato pobre, não tem de onde tirar para evitar que uma firma especializada lhe ressarça a dívida, ganhando assim o direito de explorar sua desvalorizada força de trabalho até reaver o que adiantou, valor multiplicado com o passar dos dias de confinamento (pois não se deixará o indivíduo solto, naturalmente), já que assim lhe são fornecidas casa, comida e roupa (lavada, costurada, tudo produzido por ele próprio e pelos demais detentos), a cujo valor total aplicam-se os juros de praxe. Cumprida a pena - caso cumprível seja, é claro - o liberto terá de enfrentar todas as sanções tradicional e indiscriminadamente aplicadas aos de sua situação, como a dificuldade para achar trabalho, pelo que contrairá novas dívidas ou enveredará por carreira explícita no 'mundo do crime'. Já o crime é combatido, como sempre, pela polícia, agora majoritariamente financiada pela mesma iniciativa privada que compensa financeiramente as vítimas de qualquer tipo de delito e se apropria da força desvalorizada de trabalho  dos infratores.

Trata-se da solução natural dos problemas dum mundo cujas contas jamais fecham, o mundo do capital, que já experimentou de tudo para resolvê-los desde ao menos quando se viu na contingência de atender ao apelo moral dos da sociedade comum e extinguir a escravidão: depois de ter de sustentar por décadas a fio assalariados, transforma-os em terceirizados, a seguir em trabalhadores termporários e autônomos, tudo em nome de fazer as contas fecharem. Mas isto só até darem com a solução definitiva que, temos de reconhecer, em nada difere do escravismo, só que desta vez com base legal sólida, capaz de ser moralmente justficado ao longo de, talvez, eras sem fim: são escravos - digo, mão de obra sob regime compulsório de trabalho - todos os que descumprem a lei. O arremate virá com o adequado Código Civil que, em sendo lei, tem a prerrogativa de criar crimes em tão-só os apontando e denominando, sendo enfim usada para confinar para sempre e com o merecido proveito os 90% de humanos que não tiveram sucesso em suas finanças.

Quem sabe, então, fechem as contas.

Contas? Que contas? Isto será coisa do passado.

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