13 abril 2018

O pecado é o mercado

Lê-se no título da matéria: "Jesus não morreu por 'nossos pecados', mas sim por enfrentar o interesse, a conveniência e a cobiça". Não seriam uns as outras três coisas?

Sim, Cristo morreu por tudo isso: isso com que temos concordado, mormente de modo tácito, e contra que até nos insurgimos, mas somente quando alijados da possibilidade de o praticarmos, para que o pratiquemos. O que mais isto seria além de 'os pecados nossos de todos os dias'?

Sempre lembro aos 'cristãos': até onde recordo, Cristo jamais perdeu a linha, exceto uma única vez, e não com o demônio, que o assediou no deserto, nem mesmo com Judas, que vendeu um beijo e por isso matou-se, mas com a presença, na casa d'O Pai, do que julgou merecer toda sua ira em violência física, o 'mercado'.

O que mais o mercado é além do exercício mórbido de desmerecimento recíproco do que possuem de único os indivíduos para sobreviverem neste mundo, a capacidade para o trabalho? A 'pechincha', que até nos diverte, é a semente de toda a discórdia num contrato social permanentemente orientado para seu potencial extremo, o da guerra.

No mito - ou história - cristão, se revoltoso como Barrabás, Jesus teria ido um tanto além de apenas denunciar a exploração pelo homem do trabalho do homem, apontando o que a causa, seu instrumento essencial, esse cujo poder de sedução tem sido o motor do conflito permanente em nome de o possuirmos, de o controlarmos sob a alegação vazia, a promessa enganadora de sermos capazes de retirar de sua natureza malsã algum bom fim.

Foi morto sob a acusação de se dizer 'Filho de Deus', que para bom entendedor era como se perguntasse: "Se eu sou, como não o seria você também?" Morreu por demonstrar a 'Igualdade' com tratar a todos por 'irmãos', aplainando os aclives do poder sobre os vales dos despossuídos.

Pregou o compartilhamento e a dádiva, e com elas o abandono da vã tentativa de medir o trabalho humano com o fim de negociá-lo. Com o escândalo no templo teatralizou a ira justa contra o cinismo de fazer medrarem as raízes de nossas piores diferenças onde habita a razão de sermos todos um só.

São mil, novecentos e setenta e cinco anos de pura zombaria com o terem imolado. Contam-se nos dedos os que entenderam as lições que deixou.

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